Suspeito de participar da morte de PM em Guarujá é preso em SC
São Paulo — Um dos suspeitos de participar do sequestro e morte do policial militar Luca Romano Angerami (foto em destaque, à esquerda), de 21 anos, foi preso nessa terça-feira (3/12) no município de Navegantes, em Santa Catarina.
Samuel dos Santos Gomes (foto em destaque, à direita), conhecido como “Fininho”, foi preso em um posto de saúde na rua Manoel Evaldo Muller após a Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) receber informações da Polícia Militar de São Paulo (PMESP) sobre o paradeiro do suspeito.
Relembre o crime
Luca foi sequestrado, julgado e condenado pelo chamado “tribunal do crime” do Primeiro Comando da Capital (PCC) em abril deste ano, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ele foi morto com 18 tiros.
O corpo do policial militar foi encontrado apenas em 20 de maio, em uma cova rasa de um cemitério clandestino do Guarujá. Luca estava enrolado em uma lona com as mãos amarradas, tinha perfurações pelo corpo e um cadarço em volta do pescoço. Seu rosto estava desfigurado.
Uma tatuagem no braço esquerdo teria ajudado na identificação do PM.
Visto pela última vez em uma biqueira
O PM havia sido visto pela última vez em uma biqueira, como são chamados os pontos de venda de drogas, na madrugada de 14 de abril. Antes, ele havia passado a tarde com amigos na Praia do Tombo, ido a um bar de sinuca e depois a uma adega na Vila Santo Antônio.
A Polícia Civil acredita que Luca foi sequestrado na saída da adega. Por sua vez, os investigados dizem que o soldado chegou por conta própria ao ponto de venda de droga, perto do qual foi flagrado por uma câmera andando ao lado de um suspeito, e só foi arrebatado no local.
Segundo um dos depoimentos, de Carlos Vinícius Santos da Silva, o Malvadão, o PM parou o seu carro, um Toyota Corolla, um pouco à frente da biqueira, localizada na Rua das Magnólias, e logo foi abordado pelo traficante responsável pelo ponto. Esse criminoso seria Caick Santos Riachão da Silva.
Após conversar de 5 a 10 minutos com o PM, Caick teria voltado sozinho para a biqueira. Em seguida, o soldado foi abordado por outro suposto frequentador do local, identificado como Danilo Jefferson Corrales Lins Andrade, o Caga, que o convenceu a descer e ir até o ponto de venda de drogas.
Ao chegar à biqueira, Luca e Caga teriam sido questionados pelo traficante, que àquela altura já sabia que se tratava de um PM. “E ai, qual é, Caga, tá trazendo polícia?”, teria dito Caick, segundo depôs. Foi quando o soldado levantou a camisa para mostrar que estava desarmado.
Recusa em deixar munições
Outros criminosos teriam sido avisados da presença do policial e chegaram ao local. Entre eles, estavam João Victor de Souza Miranda Santos, o BH, João Marcus Galdino da Silva, o Trolho, e Rafael da Silva Santos, o Cebola, apontados como “disciplinas” do PCC na Vila Santo Antônio.
Diferentes depoimentos também citam a presença de Fábio Barbosa da Silva Júnior, o Fabinho, e Renato Borges de França, o Coroinha, no local.
Enquanto Luca era interrogado pelos traficantes, o “olheiro” da biqueira teria ido até o carro do PM, encontrado a arma de fogo dele e a levado para os criminosos. De acordo com os depoimentos, a pistola foi entregue na mão de BH.
“O irmão BH devolveu a arma para o policial, sem as munições, falando para ele ‘vazar’”, declarou Malvadão. Luca, no entanto, teria se negado a deixar o local sem levar “o pente e as balas” que os traficantes haviam tomado. “ começou a ameaçar que senão ia ter que voltar para pegar a munição (…) Aí, BH disse: ‘Vai ser assim então?.”
Essa versão da ocorrência é corroborada por Caick, Fabinho e o próprio BH, que admite ser integrante do PCC. Na investigação, o disciplina da facção criminosa relatou que “falou para o policial ir embora ‘porque ia molhar a quebrada’” – ou seja, atrair ainda mais policiais.
Defesa alega inocência
“Fininho” foi identificado como Samuel dos Santos Gomes através da análise de dados de um celular encontrado em 16 de abril. A investigação analisou a lista de contatos e o aplicativo WhatsApp.
A linha telefônica de “Fininho” foi encontrada na lista de contatos do celular apreendido, e a foto do perfil do WhatsApp permitiu a identificação de Samuel através do aplicativo “Muralha Connect”. A polícia solicitou então a inclusão de Samuel no processo criminal em andamento.
Em 1º de agosto, o juiz determinou que Samuel fosse formalmente adicionado ao processo como réu. Um mandado de prisão preventiva foi emitido em 6 de agosto, e o suspeito estava foragido até a última terça.
Nos autos, a advogada de Samuel, Alice Bandeira, alega que seu cliente é inocente. A defesa afirma que “a descrição de ‘Fininho’ prova que não se trata da mesma pessoa e que o acusado está sendo processado injustamente”.
Em resposta à acusação, Alice apontou que, nos interrogatórios, todos os réus que citaram a “Fininho”, descrevendo suas características físicas como um um indivíduo moreno, alto, magro e possuindo uma tatuagem de “demônio/carranca” em um dos ombros ou braços.
A defesa destacou que Samuel não possui tatuagem do tipo ou qualquer outra marca parecida em seus braços, peito, costas ou ombros.
Alice aponta ainda que o suspeito estava em casa na hora do cometimento do crime, e que “a única coisa que o acusado tem de relação com o caso é o fato de morar na rua ao lado do corrido”.
Além disso, Samuel teria um conhecido que mora em seu bairro há anos e o conhecia desde criança. Esse homem tinha o contato de Samuel salvo em celular com o apelido que ele já possuía, “Fininho”, pelo fato de sempre ter sido muito magro, alegou a defesa.
“Ademais, o mesmo possui uma altura de 1,65, é branco e não moreno, tem cabelos castanhos e não bate com as características indicadas pelos próprios réus”, apontou a advogada.
Em nota, a defesa do acusado destacou que a prisão de Samuel é “completamente ilegal”.
“A polícia e o Ministério Público estão utilizando Samuel como bode expiatório, sendo que no auto do cumprimento de mandado de prisão a polícia agrediu Samuel e sua esposa grávida, sendo que Samuel compareceu com hematomas na face (olho e boca) na audiência de custódia. A polícia do Guarujá também vem praticando atos de abuso e violência policial contra a família de Samuel, tendo inclusive invadido a casa de sua avó idosa em ação ilegítima”, disse a advogada.
Prisões e foragidos
Samuel está preso no Presídio Regional de Itajaí/SC, que está com “lotação acima do normal”. Por isso, ele deve ser transferido para uma unidade prisional de São Paulo nos próximos 30 dias.
Ele é um dos 10 acusados indiciados pelo crime e o sétimo suspeito a ser preso. Os réus Thiago da Silva Santos, o “Gardenal”, e Luiz Fernando da Silva, o “Luizão”, tiveram seus mandados de prisão expedidos, mas permanecem foragidos.
Jonathan de Assunção da Silva, o “irmão Gabriel”, chegou a ser preso preventivamente, mas depois foi solto.
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